O comportamento dos consumidores está a mudar.
O Elétrico tem uma nova vida. A preferência de aquisição incide agora, para muitos, para viaturas consideradas menos poluentes. Comportamento que se aplica tanto nos carros novos como usados.
O termo mobilidade elétrica é já uma realidade no mercado nacional. Isso é visível, todos os dias, nas estradas portuguesas. Não é por acaso que Portugal é dos países europeus com maior rácio de viaturas elétricas.
Uma tendência em crescendo, e não apenas nas viaturas novas. Como refere Nuno Castel-Branco, diretor-geral do Standvirtual, no início deste ano, esta plataforma identificou uma intenção de compra de 33% nos veículos eletrificados novos, que se traduziu em 40% de compras efetivas destes veículos na categoria de ligeiros de passageiros, segundo a ACAP. Face a isto, o responsável pelo Standvirtual afirma que, neste momento, existe uma procura exponencial por carros elétricos que tem vindo a crescer de forma muito evidente desde o ano passado. Só para se ter uma ideia, em julho deste ano, e segundo dados da ACAP, foram matriculados em Portugal 4.614 automóveis ligeiros de passageiros novos elétricos, plug-in e híbridos elétricos, ou seja, mais 17,9 por cento do que no mesmo mês do ano anterior. Os dados mostram que, face ao ano anterior, o aumento da procura aumentou 147% (em março). Por outro lado, estudos do Standvirtual mostram que 62% dos condutores interessados em comprar carros novos preferem híbridos ou elétricos, em detrimento do gasóleo (19%) ou da gasolina (17%).
A análise dos números – do total de 89.944 veículos ligeiros de passageiros novos matriculados no mercado nacional entre janeiro e julho (-4,1% face ao ano passado), 43,4% são movidos a gasolina e 38,2% a “energias alternativas” (elétricos, híbridos, híbridos plug-in e outros) e 18,4% a diesel – mostra que os veículos 100% elétricos registaram um aumento de 60,6% em 2021 e que hoje têm uma quota de 9,9%.
Tendo em conta que a maioria dos utilizadores não percorre mais do que 40 km no dia a dia, os híbridos plug-in são uma excelente solução.
Aquiles Pinto
Relações-pública da C. Santos
No caso específico da Sociedade Comercial C. Santos, como refere o seu relações-públicas, Aquiles Pinto, as vendas registam uma tendência de eletrificação ainda mais forte: os veículos de passageiros novos eletrificados representam já mais de metade da presente carteira de encomenda da Sociedade Comercial C. Santos. Procura que também se reflete no segmento dos usados.
Se é verdade que há cada vez uma maior procura por viaturas menos poluentes, também é certo que 1) a capacidade das baterias ainda não é suficiente para quem faça muitos quilómetros todos os dias; 2) Portugal ainda não tem uma infraestrutura de carregamentos capaz. Isto leva a que muitos optem por uma meia opção: as viaturas híbridas, sejam os paralelos ou plug-in (ou seja, recarregáveis).
“Os híbridos plug-in, desde que utilizados de forma otimizada – isto é, carregando a bateria e privilegiando o uso elétrico, ficando o motor a combustão para quando há uma necessidade de percorrer maiores distâncias – são uma boa opção. Tendo em conta que a maioria dos utilizadores não percorre mais do que 40 km no seu dia a dia, os híbridos plug-in são uma excelente solução para muitos utilizadores e uma ‘ponte’ para a eletrificação”, afirma Aquiles Pinto.
A desmistificação dos carros elétricos e o reforço da rede de carregamento e os incentivos à compra ajudaram ao crescimento deste mercado.
Nuno Castel-Branco
Diretor-geral do Standvirtual
Uma curiosidade. Se é certo que os híbridos ganham destaque nas viaturas novas, curiosamente no mercado de usados a preferência vai para os veículos elétricos, seguindo-se os híbridos a gasolina e por último os híbridos a diesel, “sendo que a oferta está também relativamente equilibrada neste sentido”, refere Nuno Castel-Branco, acrescentando que, no caso dos usados, os elétricos, híbridos a gasolina e híbridos a diesel já correspondem a cerca de 11% da procura e a cerca de 6% da oferta no mercado. “O preço mais acessível de um elétrico usado e o maior conhecimento da durabilidade das baterias podem ser dois dos fatores que contribuíram para que, no mercado de usados, sejam os carros totalmente elétricos os que registam ligeiramente mais interesse nos condutores”, aponta.
Ambiente (e carteira) dita decisão de compra
Hoje a população tem uma maior consciência ambiental. Certo. Mas essa não é a única motivação de quem compra uma viatura elétrica ou híbrida. A crise dos combustíveis e o fator peso são tão ou mais importantes aquando da decisão de aquisição. “A desmistificação dos carros elétricos com cada vez mais informação disponível, tanto para o comprador como para os vendedores, bem como o reforço da rede de carregamento e incentivos à compra são alguns dos elementos adicionais que ajudaram no crescimento deste mercado”, acrescenta o responsável do Standvirtual. Aquiles Pinto acrescenta uma outra perspetiva, a utilização de carregadores públicos rápidos pode já ter custos elevados, mas a aconselhável utilização de carregamento doméstico significa um preço por km muito inferior no uso elétrico versus o gasóleo ou a gasolina. Também em termos fiscais há vantagens nas viaturas elétricas ou plug-in em relação aos automóveis a combustão. Estas vantagens fiscais – e apoio à aquisição no caso dos particulares – são um fator fulcral para a utilização.
Mas nada como ter dados concretos. Segundo estudos de mercado e do feedback dos parceiros do Standvirtual, a autonomia da bateria (25%), os custos por km (24%) e o impacto ambiental (23%) são apontados como as principais vantagens de adquirir um veículo elétrico ou híbrido plug-in pelos condutores. A possibilidade de alugar baterias e a oferta de um carregador doméstico são destacadas ainda como uma mais-valia para os consumidores que optam por comprar este tipo de veículos.
Os construtores automóveis estão a apostar na eletrificação e a maioria estará pronta para ter oferta adequada a esse rumo.
Nuno Castel-Branco
Diretor-geral do Standvirtual
Os números mostram que não se trata de um fenómeno pontual. “A aquisição de um carro elétrico é cada vez mais equacionada por quem conclui que chegou a hora de trocar de automóvel ou por quem está no mercado à procura de um primeiro veículo”, aponta Nuno Castel-Branco. E, à medida que a presença destes veículos no parque nacional aumenta, o mesmo acontece no mercado de usados. Mesmo porque a legislação e as decisões governamentais vão nesse sentido. Como lembra Aquiles Pinto, a tendência, pelo menos na Europa, América do Norte e partes da Ásia, é para continuar o rumo para a eletrificação. O poder político está, aliás, a legislar nesse sentido. Em junho, os Estados-membros da União Europeia chegaram a acordo para proibir a venda de veículos com motores de combustão de 2035 em diante. “Os construtores automóveis estão a apostar na eletrificação e a maioria estará pronta para ter oferta adequada a esse rumo”, constata. Nuno Castel-Branco acrescenta que “podemos mesmo dizer, com bastante certeza, que no futuro os elétricos vão representar a maior parte do negócio das marcas automóvel. Diversos construtores estão quase totalmente focados no desenvolvimento de novos modelos eletrificados”.
Preços (ainda) demasiado elevados
Há procura. Há desejo de comprar. Mas há fatores que existem que dificultam esse último passo. Nomeadamente o preço das viaturas. É certo que, como aponta Aquiles Pinto, o preço é um obstáculo cada vez menor, à medida que o preço entre viaturas com motor a combustão e as elétricas se aproximam. No entanto, continua a ser um entrave. “Neste momento diríamos que a preocupação principal se prende sobretudo com o investimento inicial mais elevado”, afirma Nuno Castel-Branco, que aponta ainda a questão da bateria. “A autonomia, que para os condutores deve estar idealmente entre os 500 km e os 700 km, e o tempo de vida da bateria estão também no topo das considerações feitas pelos potenciais compradores. A eventual falta de infraestruturas de carregamento é ainda indicada como uma das principais desvantagens na compra de carros elétricos, de acordo com os nossos estudos.” Já Aquiles Pinto tem uma visão mais otimista, dado que, como refere, há já muita oferta com autonomias superiores a 400 quilómetros. Para o relações-públicas da Sociedade Comercial C. Santos, a rede de carregamento é o maior obstáculo.
“Em Portugal, há mais de 2.500 postos de carregamento público, sendo o quarto país europeu com mais postos de carregamento por 100 km de estrada. Esse número, contudo, tem de acelerar e o crescimento tem, pelo menos, de acompanhar o aumento da venda de automóveis recarregáveis eletricamente. Igualmente importante é a possibilidade de carregamento doméstico. Com efeito, muitas famílias não têm como carregar modelos deste tipo, seja por não terem garagem, seja por terem apenas lugar de estacionamento sem condições para poderem carregar o veículo”, aponta.
Mas, à partida, é um problema que tem solução. Regularmente há notícias da expansão da rede de carregamentos. E, com isso, o maior entrave à aquisição e disseminação das viaturas elétricas e híbridas começa a desaparecer. O mesmo acontece com a autonomia das viaturas, dado que os vários fabricantes estão a trabalhar ativamente nessa matéria. Agora falta apenas que ocorra uma harmonização dos preços e, principalmente, que a produção de energia (que vai alimentar as viaturas) seja efetivamente verde.
Por Alexandra Costa, Jornal de Negócios