Com a entrada massiva dos veículos eléctricos no mercado, o discurso em torno da manutenção tem-se centrado quase sempre na simplicidade mecânica e na menor necessidade de revisões. É verdade que desaparecem filtros de óleo, correias, filtro de partículas, válvula EGR, embraiagem bi-massa ou sistema de injecção. Mas há um elemento que não pode ser ignorado: a bateria de alta tensão.
Apesar de robusta, a bateria não é um bloco estanque para “esquecer”. Tal como qualquer sistema complexo, está sujeita a envelhecimento físico e químico. Um dos pontos mais sensíveis encontra-se nos bornes e barramentos que ligam os módulos. A variação de temperaturas, a humidade e até pequenas infiltrações podem, ao longo do tempo, provocar oxidação ou corrosão. Esse processo, quase invisível no início, traduz-se em resistências de contacto mais elevadas, aquecimento localizado e eventual falha eléctrica. Uma inspecção anual permite detectar sinais precoces de desgaste e corrigir antes que se tornem problemas graves.
Outro aspecto crítico é o controlo térmico da bateria. Quase todos os fabricantes definem uma “zona de conforto” entre 15 ºC e 35 ºC. Fora destes limites, a autonomia cai, a carga torna-se mais lenta e a degradação acelera. Os sistemas de refrigeração – quer sejam de líquido, quer de ar forçado – não são eternos: podem sofrer fugas, entupimentos ou falhas em bombas e compressores. Uma revisão cuidada deve incluir a verificação da estanquidade, a reposição do fluido e o teste de válvulas e sensores.
Não menos importante é a cablagem de alta tensão. Pequenas fissuras no isolamento, poeiras acumuladas ou humidade em conectores laranja podem originar descargas indesejadas e comprometer a segurança. É por isso que as oficinas especializadas seguem protocolos rigorosos, incluindo medições de isolamento e verificações visuais detalhadas.
A revisão anual abre ainda espaço para actualizações do software de gestão da bateria (BMS), que controla o equilíbrio entre células, calibra sensores e optimiza estratégias de carregamento. Esta componente digital é tão determinante quanto a parte física.
Em suma: cuidar da bateria é cuidar do coração do automóvel eléctrico. A manutenção preventiva não deve ser vista como um custo adicional, mas como um seguro de longevidade e confiança. Ignorá-la pode significar mais tarde enfrentar perdas de autonomia, reparações dispendiosas ou até riscos para a segurança. Por isso, a recomendação é clara: uma revisão anual da bateria de alta tensão é tão essencial como antes era a mudança de óleo nos motores de combustão.

Fonte: PÓS VENDA