A eletrificação da mobilidade tem registado uma expansão sem precedentes. Só em 2023, a procura global de baterias ultrapassou os 750 GWh, impulsionada pela adoção crescente de veículos elétricos (VE). Este crescimento coloca uma questão crítica na agenda ambiental e industrial: como gerir, de forma eficiente e sustentável, o ciclo de vida das baterias de iões de lítio?
União Europeia tem vindo a responder com medidas concretas. O novo Regulamento de Baterias, publicado em julho de 2023, estabelece metas obrigatórias de reciclagem: 65 % do peso total das baterias até 2025 e 70 % até 2030. Em paralelo, impõe taxas mínimas de recuperação de metais estratégicos como lítio (80 %), cobalto e níquel (98 %), bem como a incorporação obrigatória de matérias-primas recicladas nas baterias novas. Contudo, os desafios técnicos e económicos são substanciais.
As tecnologias atualmente utilizadas dividem-se em três abordagens principais: piro-metalurgia, hidrometalurgia e reciclagem direta. A piro-metalurgia, apesar de robusta, é altamente intensiva em energia. A hidrometalurgia, por outro lado, permite recuperar metais com maior pureza e menor pegada ecológica, embora requeira soluções químicas específicas. A reciclagem direta, ainda em fase experimental, promete recuperar componentes sem os degradar, mas enfrenta limitações devido à diversidade de químicas e formatos existentes no mercado. Do ponto de vista industrial, a Europa começa a dar sinais de dinamismo. Empresas como a Altilium (Reino Unido) ou a tozero (Alemanha) estão a desenvolver processos que combinam eficiência económica ARTIGO 06/12 com desempenho ambiental. A Altilium, por exemplo, estabeleceu parcerias com fabricantes automóveis e já demonstrou reduções de custos de até 20% na recuperação de materiais catódicos, com emissões de CO₂ significativamente mais baixas. A tozero, por sua vez, está a implementar uma linha-piloto para reciclagem de grafite com baixíssimo impacto ambiental.
Em termos de capacidade instalada, o continente europeu está ainda aquém das necessidades futuras. Embora existam iniciativas relevantes, como a joint-venture da Stellantis com a Orano ou o projeto Hydrovolt na Noruega, a previsão é de que, até 2040, apenas cerca de 20–25% da procura por lítio possa ser satisfeita por via de reciclagem. Para alcançar a verdadeira circularidade, será necessário não apenas escalar estas soluções, mas também promover a normalização dos formatos de baterias e o desenvolvimento de sistemas automatizados de desmontagem e triagem. A reciclagem de baterias de VE representa, simultaneamente, um enorme desafio técnico e uma oportunidade industrial estratégica. Mais do que uma solução de fim de linha, é um pilar central para a sustentabilidade do modelo elétrico, a segurança de abastecimento da Europa e a redução da pegada ambiental do setor automóvel.

Fonte: PÓS VENDA